“Escolha Cooperativismo. Escolha Equidade” – ACI, 04/7/15, 93º Dia Internacional do Cooperativismo.
As comemorações, mundo afora, de mais um ano de presença virtuosa do cooperativismo destacam a equidade na presente edição.
Estamos diante de uma alternativa socioeconômica, baseada em valores e princípios, cujo objetivo é a construção de uma vida melhor para mais de um bilhão de pessoas ao redor do globo. Mas o que liga, de fato, as entidades cooperativas a uma existência mais digna, mais justa, mais equitativa?
Começa que esse movimento coloca as pessoas no centro das atenções, reservando ao capital um papel instrumental (de respaldo operacional). As individualidades cedem espaço à construção conjunta da prosperidade. Os ganhos, obtidos com equilíbrio e isonomia pelo trabalho coletivo, são de todos na proporção de seus esforços em prol da iniciativa.
As pessoas cooperam para satisfazer necessidades econômicas recíprocas, em diferentes campos, a preço justo e à luz de outros diferentes preceitos éticos. Os excedentes apurados ao final de cada ciclo civil, considerando a dupla condição de dono e usuário dos membros da cooperativa, não se confundem com lucro, que é próprio de empreendimentos cujo capital prepondera e está a serviço de poucas pessoas.
Por sua inserção comunitária, o cooperativismo está naturalmente vocacionado para fazer o bem nos locais em que está estabelecido. Daí a razão do (7º) princípio universal do “interesse pela comunidade”. Há uma preocupação de gerar progresso conforme a aptidão das populações e de acordo com o potencial econômico da região cooperativada, compromisso que leva à melhoria da qualidade de vida de todos os cidadãos lá fixados, associados ou não!
Pelas mesmas razões, as cooperativas lideram inúmeras iniciativas de caráter sociocultural. É até mesmo difícil imaginar um evento cultural, um encontro esportivo ou uma mobilização para arrecadar fundos com propósitos humanitários, sem o engajamento de associados, dirigentes e colaboradores de alguma cooperativa. O apoio jamais se limita à simples entrega de fundos financeiros. Na maioria das vezes, a própria organização é confiada aos representantes das cooperativas.
Aqui não se cogita de recorrer ao apelo midiático-mercadológico da “responsabilidade social”, utilizado para iludir a população visando a atraí-la para compor a legião de clientes. É da essência do movimento ocupar-se das necessidades e dos interesses dos seus membros e do meio em que vivem ou operam.
Aliás, nessa forma organizativa, o social confunde-se com o econômico (manifesta-se uma espécie de “dois em um”). Essa reunião de propósitos, por sinal, foi bem traduzida pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em pronunciamento na cerimônia de abertura do Rio Cooperativo 2.000 (04-12): “A cooperativa, como uma empresa, caracteriza-se por aliar diretamente, na mesma organização cooperativa, dois aspectos fundamentais do desenvolvimento sustentável: a racionalidade econômica e o sentido da solidariedade social. Um híbrido de empresa e organização do terceiro setor, uma empresa com o coração”.
Em síntese, com legitimidade e expressão não equiparáveis a qualquer outra iniciativa socioeconômica, o cooperativismo é movimento propulsor para a construção de uma sociedade mais equilibrada, inclusiva, equitativa e sustentável.
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Ênio Meinen, advogado, pós-graduado em direito (FGV/RJ) e em gestão estratégica de pessoas (UFRGS), e autor/coautor de vários artigos e livros sobre cooperativismo financeiro – área na qual atua há 31 anos -, entre eles “Cooperativismo financeiro: percurso histórico, perspectivas e desafios”. Atualmente, é diretor de operações do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob).